Socalco Nature Calheta – Um prato completo

O tom enfático não quer deixar margem para dúvidas sobre a afirmação: “Este é o hotel mais madeirense da Madeira!” O entusiasmo com que Octávio Freitas fala do Socalco Nature Calheta é, certamente, contagiante. “Estou completamente apaixonado por isto, tenho alguns arrepios na espinha”, confessa o chefe de cozinha, de 39 anos, os últimos dos quais à frente da restauração do grupo madeirense Four Views Hotels. Quando tudo o resto fechava e o mundo parecia dizer-lhe “Para, não faças isso!”, Octávio investia e inaugurava este agroturismo na Calheta, em outubro de 2020, ocupando de forma cirúrgica os típicos poios (socalcos) agrícolas da propriedade, varandas magníficas para o azul profundo do Atlântico. “Tive uma oportunidade única de me dedicar ao projeto durante vários meses; numa situação normal, não o conseguiria”, conta. Mesmo as dificuldades que surgiram ao longo do caminho acrescentaram valor. “Grande parte do mobiliário e da decoração acabou por ser feita na Madeira.”

Tudo nasceu à volta do restaurante A Razão, uma escolha de nome óbvia. “O projeto foi crescendo. Queria combinar gastronomia, agricultura, alojamento e criar experiências únicas em que as pessoas pudessem estar em contacto com a Natureza e sentir esta ligação à terra”, explica. A cozinha é a grande pièce, ampla, com vidraças para apreciar a envolvente e aberta para a sala, permitindo a interação com os clientes. “Escolhi o melhor sítio para a colocar, numa torre, como símbolo dos meus 25 anos de experiência profissional”, acrescenta Octávio.

Apostará nos produtos típicos madeirenses e da época, tanto os cultivados pelo pai na horta do hotel, entre as vinhas (para o ano, fará a primeira colheita), por onde inclusive passa uma levada, como os produzidos por agricultores locais. A proximidade do mar será valorizada, como se viu no primeiro prato servido, os saborosíssimos camarões da Calheta pescados pelo vizinho Manuel, que “ninguém sabe que existem e que ele servia no seu tasco como tremoços”. Servirá uma comida mais moderna, de autor, em que gosta de evidenciar as iguarias de forma simples – umas papas de milho com ventrecha de atum e cebolada, por exemplo -, e terá igualmente uma churrascaria e um forno a lenha, no exterior, “onde não se inventará nada e se respeitará a tradição madeirense”. Durante a semana, para os hóspedes, haverá atividades culinárias, como fazer pão ou compotas, ou experiências mais exclusivas, como refeições privadas, preparadas com o chefe. “Sempre estive ligado à formação [criou a OF Escola], é uma das minhas grandes paixões, e este projeto tem uma alma pedagógica”, diz este comunicador nato, que já teve rubricas em programas televisivos e de rádio. Por concluir, está a recuperação do lagar antigo e a criação da adega, dentro de uma gruta, onde se farão algumas degustações.

Na casa-mãe, de 1685, com as gaiolas pombalinas das paredes à vista, foi instalada a receção e dois quartos. O restante alojamento está distribuído pelo terreno (dez casas isoladas e dez em banda) e perfeitamente integrado na paisagem, sem paredes comuns, para garantir uma maior privacidade. Todos os quartos premium têm características particulares, como a casa da gruta, com as paredes rochosas a transmitir a energia vulcânica, ou a da cascata, onde se ouve o som sereno da queda de água. A decoração minimalista foi propositada, para não concorrer com a vista generosa de mar. “O Socalco é o prato. Tenho tudo isto para oferecer, um projeto arrojado, sem ser presunçoso”, sublinha Octávio Freitas.